ícones de estilo e influenciadoressexta-feira, 16 de abril de 2021

Martin Margiela: o estilista invisível

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Por Gabrielle Carreira

 

O belga Martin Margiela é considerado um dos grandes expoentes da moda atual. Seu trabalho na Maison Margiela é considerado revolucionário, com forte inspiração em Jean Paul Gaultier, de quem foi assistente, e dos estilistas japoneses Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, traz um estilo que desconstrói e reinterpreta a moda.  

 

Não existem limites na moda de Margiela. Em 1980, quando ganhou os holofotes, questionou o classicismo que existia na alta-costura apostando em mostrar o avesso das roupas, alterando as proporções, com a “Oversize Collection” nos anos 2000, jogou luz sobre a questão do reaproveitamento das roupas, além de explorar tópicos que as passarelas tinham aversão. 

 

Outro ponto que vale a atenção: Margiela é conhecido como o “homem invisível da moda”, pois não aparece em público e não dá entrevistas. A palavra “eu” não faz parte do seu vocabulário. Para se referir às criações a palavra “nós” era a escolhida, referindo-se aos funcionários e ajudantes da marca. 

 

A verdade é que Margiela acredita que as criações precisam ser o foco de atenção em todos os momentos. 

 

 

Moda encontra arte

 

Tudo que envolve a carreira de Martin Margiela é singular. Inclusive a relação estreita que ele criou entre arte e moda.

 

Desde o seu primeiro desfile com a label Maison Margiela, em 1988, esse conceito estava claro. As passarelas foram montadas no Café de la Gare, em Paris, com um ambiente underground, que brigava com as grandes apresentações da semana de moda. 

 

Enquanto desfilavam, as modelos deixavam pegadas de tinta na passarela, mas não com um formato comum. Era o nascimento das botas tabi Maison Margiela, que levam um corte ao centro, separando os dedos. 

 

Nas coleções seguintes o sapato continuou a aparecer e ganhou status de peça essencial. No entanto, o que pode parecer uma óbvia forma de seguir uma linguagem de marca, a permanência dos calçados dos desfiles significava apenas uma contenção de gastos, já que no começo de sua carreira, Margiela não tinha recursos para criar novos modelos a cada coleção. Assim, os sapatos eram customizados para combinarem com o que seria apresentado naquele momento, mantendo sempre o formato de “tabi”. 

 

 

Tudo é moda 

 

Na segunda coleção da Maison, do outono/inverno de 1990, ele foi mais longe e apostou em materiais proibidos nas passarelas: cortiça, metal e até cacos de pratos.

 

Margiela trazia para suas roupas suas crenças: é preciso reaproveitar a moda. Até mesmo os tecidos brancos de tênis All Star foram transformados em um colete. 

 

Em outros trabalhos o estilista continuou com essa ideia, usando até mesmo cartazes publicitários do metrô de Paris na coleção de primavera/verão de 1990. Já para a coleção de 1992, a aposta foi criar a partir de lenços usados. 

 

Essas ideias são reunidas na linha “Artisanal”, que conta com roupas vintage ou objetos recuperados, transformados em peças únicas. E na série “Replica”, com roupas vintage reproduzidas de forma idêntica. 

 

Além dos materiais inusitados, Margiela apostava em desfiles que fugiam ao convencional, com modelos que tinham os rostos cobertos por capuzes, máscaras ou até o próprio cabelo, tudo para que o espectador não foge estimulado pela modelo em si, mas sim, e apenas, pela roupa. 

 

Os locais dos desfiles também merecem destaque: muitas apresentações eram em locais públicos, originais, alternativas, como galpões industriais, estações de metrô e terrenos baldios. 

 

Tudo para manter sua ideia de desconstrução e reinvenção da moda, algo atual e nunca visto antes na indústria.

 

 

A vez de John Galliano

 

Em 2009, Margiela se afastou da Maison, sem avisar ninguém. A grife não deixou de existir, mas apenas em 2014 que o nome de John Galliano surgiu como novo diretor criativo da marca, trazendo seu próprio senso de espetáculo e criação, unindo ao espectro único da Maison Margiela.

 

A primeira coleção desenhada por John Galliano foi desfilada em Londres, com um renascimento da moda inesperada, dando corpo para uma beleza nova, a partir de uma alfaiataria renovada e detalhes que formam um quebra-cabeça. 

 

Os críticos classificam o seu trabalho recente a frente da marca como um processo orgânico fascinante, que respeita inteiramente o estilo de Martin Margiela.  

 

Além do estilista John Galliano, Margiela inspirou uma geração forte: Demna Gvasalia, a frente da Vetements e Balenciaga, faz, frequentemente, homenagens ao estilista francês. Suas proporções exageradas, o interesse e cuidado pela forma das roupas, além da atenção para a reciclagem de roupas vêm dos vários anos que trabalho na Maison Margiela. 

 

 

Além da Maison 

 

Os passos de Margiela não ficaram restritos a Maison que leva seu nome. Em 1997, sua entrada na Hermès pegou a todos de surpresas, afinal, a marca francesa é conhecida por seu estilo tradicional. Muito se questionava sobre qual seria o resultado dessa união.

 

No fim, entre 1997 e 2003, o que aconteceu foi uma fusão cheia de inovação e reinvenção, que deu a Hermès um fôlego extra para o luxo atemporal.

 

Os anos que Margiela passou na label francesa são retratados no livro “Margiela: The Hermès Year”, que não contém entrevistas do estilista, mas foi inteiramente aprovado por ele. 

 

Mais do que esse breve período na história do estilista, seus 20 anos de criações a frente da Maison Margiela ganharam uma exposição especial, a “Margiela / Galleria 1989 - 2009”, com uma linha do tempo de toda a sua história, acontece em Paris, na Palais Galliera até junho de 2018.

 

A exposição apresenta mais de 130 peças, vídeos de desfiles, arquivos e instalações especiais, com uma visão sem precedentes de um dos designers mais influentes da moda atual.

 

 

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