O inspirador estilo inglês de Charles Chaplin vai muito além de seus trabalhos como ator e diretor de filmes, e isso se deve especialmente à construção de sua persona no cinema, que ficou conhecida como The Tramp (O Vagabundo, em português).
Quebrando padrões
Apesar do apelido, seu estilo trazia a elegância da Era Vitoriana, na qual o ator cresceu, combinada a uma personalidade sagaz e desengonçada que consagrou o ator em seu icônico look de paletó apertado, gravata fina e mal amarrada, bem como calças e sapatos grandes demais. A bengala de bambu e o bigode emblemático completavam o visual que fez com que sua associação aos personagens de Luzes da Cidade e O Grande Ditador ganhasse ainda mais força.
Foi nessa mesma época que, no Brasil, a figura do malandro trabalhada pela música e pelo cinema nacional trouxe uma inspiração semelhante ao look Tramp de Charles Chaplin, apesar de ter ganhado um toque diferente no país.
O segredo do figurino Charles Chaplin está na subversão da elegância do típico estilo inglês do começo do século passado e que, hoje, pode ser trabalhado de forma mais atualizada, por exemplo com coletes acinturados e cortes mais ajustados, especialmente nas calças, que podem ganhar um comprimento cropped como toque moderno.
Legado de estilo
Essa inspiração se mantém forte mesmo na moda inglesa contemporânea, como visto nas coleções da All Saints e Burberry. Apesar de a última possuir uma identidade mais posh, é justamente quebrando com essa seriedade do estilo britânico que os figurinos dos filmes de Charles Chaplin se eternizaram como uma marca registrada.
Você pode conquistar esse equilíbrio abandonando a gravata em um look formal ou mesmo optando por uma amarração mais solta e despojada, como proposto nas modelagens de ternos desconstruídos de Yohji Yamamoto.
Nesse mesmo sentido, Thom Browne propôs para o inverno 2016 uma reinvenção do look vitoriano formal, inserindo o xadrez em sobretudos e chapéus coco que, durante o desfile da coleção, serviram para cobrir o rosto de modelos, como em um encontro entre a obra de Chaplin e do pintor surrealista René Magritte.
Essa combinação, aliás, já é uma velha conhecida no mundo da moda. Em 2011, Alexandre Herchcovitch propôs justamente essa intersecção entre Chaplin e Magritte ao identificar elementos estéticos em comum, no caso, ternos pretos acompanhados de chapéus coco
Estilo crítico
No entanto, ao longo da biografia Chaplin, descobrimos que o uso desse figurino se deu com uma função mais social do que estética, já que o ator queria romper com os costumes de vestuário da classe alta e todos os valores associados a esse contexto.
Essa foi a mesma inspiração de John Galliano em 2011, quando lançou sua coleção de primavera trabalhando a figura de Chaplin e a inspiração do cinema mudo como um manifesto contra as proporções da moda masculina.
O mesmo também pôde ser visto na coleção masculina da Lanvin, lançada na mesma época, que reinterpretou a famosa fotografia em que Chaplin aparece caracterizado em sua persona Tramp, porém vestido de prisioneiro.
Contextualizando Chaplin
Essas duas grifes, porém, são exceções à regra geral – a inspiração do estilo de Chaplin costuma se dar de forma mais comportada, corrigindo as assimetrias e exageros ao incluir suspensórios como um último arremate à combinação de camisa branca e calça preta, ambas bem ajustadas.
Ainda que sua persona tenha se tornado um ícone de estilo ou até mesmo um símbolo da cultura ocidental, é importante lembrar que a função do Tramp estava muito mais associada à crítica social e política do que a uma proposta de moda.
E foi justamente por conta de seu posicionamento em filmes como Luzes da Cidade e Tempos Modernos que Chaplin deixou um legado crítico e formal tanto aos comediantes quanto aos profissionais do cinema, sendo até hoje o mais homenageado cineasta de todos os tempos. Seu estilo inesquecível nada mais é do que um bem-vindo bônus!