Não é exagero dizer que as peças da moda alta-costura podem ser comparadas a obras de arte.
Com modelos de altíssima qualidade feitos com cuidado especial e riqueza de detalhes por mãos habilidosas durante dias, semanas e até meses, as coleções de alta-costura atuais não só apresentam a expertise técnica e criativa de grandes estilistas, como também apontam tendências.
Clube seleto
Apesar ser usado de forma um pouco mais liberal hoje em dia, o termo haute couture é levado muito a sério na França, onde é protegido por lei. Lá, a Chambre Syndicale de la Haute Couture (Câmara Sindical da Alta-Costura) escolhe as grifes que podem fazer parte desse seleto universo do luxo.
Entre os critérios estão criar peças sob encomenda para clientes particulares, com pelo menos uma prova, em um ateliê com no mínimo 15 funcionários em tempo integral. A grife também precisa mostrar 50 ou mais criações originais nas temporadas de alta-costura de janeiro e julho em Paris.
Volta ao mundo em um desfile
Uma das grifes que integram a lista oficial da alta-costura é a Dior, que está completando 70 anos. Para o inverno 2017 , Maria Grazia Chiuri mergulhou nos arquivos da maison e se inspirou em uma ilustração de 1953 concebida por Albert Decaris para descrever as viagens de Monsieur Dior e a expansão da grife pelo mundo.
Em sua autobiografia, Christian Dior escreveu que “uma coleção completa deve servir a todos os tipos de mulheres de todos os países”, e foi exatamente este o caminho que Chiuri seguiu nesta temporada com a moda de luxo da grife.
O cinza foi a cor predominante na coleção, que trouxe elementos do guarda-roupa masculino misturados a peças étnicas. Graças à sensibilidade de Chiuri e ao uso de novas tecnologias, tecidos com essência masculina foram transformados, ganhando superfícies reluzentes com efeitos de luz e sombra. Eles foram usados em casacos, blusas e conjuntos. Os celebrados vestidos de festa da grife trouxeram, além dos tradicionais tules e chiffons, veludos que mostram aproximação da moda alta-costura com os desejos do momento.
Universo encantado
A Fendi, que há dois anos estreou no calendário de haute couture, encerrou a semana parisiense com desfile lúdico no Théâtre des Champs-Elysées, com direito a cenário de espetáculo e peças dramáticas, como vestidos vermelhos de rendas floridas. As flores, aliás, foram o destaque da coleção, preparadas durante meses de trabalho. Isso sem falar na trama do véu do vestido de noiva que encerrou a apresentação, composta de 9 mil discos minúsculos que demoraram 1250 horas para serem costurados à mão.
Enquanto isso, Pierpaolo Piccioli propôs, em sua mais recente coleção de roupas alta-costura para a Valentino, peças aparentemente simples, mas que mostravam toda a sofisticação da confecção da grife. Camadas eram reveladas de acordo com o movimento das modelos e o estilista apresentou uma verdadeira ode às sobreposições – desta vez coloridas e cheias de texturas para o dia, e leves e escuras para a noite.
Trabalho minucioso
O vestido alta-costura é o auge da moda e poucos sabem criá-lo como Giambattista Valli. Seus looks são sempre impecavelmente adornados com cristais e bordados, demonstrando a técnica primorosa que caracteriza a haute couture. Na passarela do inverno 2017 não faltaram vestidos de festa dramáticos , enormes saias de tule, looks com a silhueta mullet e ainda drapeados, florais e pele à mostra em modelos tomara que caia ou ombro a ombro.
Na moda alta-costura, os eventos acompanham a extravagância das roupas e muitas vezes acabam se tornando tão importantes quanto as peças. Foi o caso do “desfile secreto” da Dolce & Gabbana, que fez uma apresentação fora de época um dia antes do desfile oficial em Milão com uma passarela repleta de millennials famosos. Um deles foi a brasileira Marina Ruy Barbosa, que desfilou um modelo bordado preto e dourado com sandálias de tiras e saltos altíssimos. Agora é aguardar para avistar estas criações dos sonhos nos tapetes vermelhos e eventos mais badalados do planeta.