Em 1999, uma imagem rapper Lil’ Kim com o logo LV da Louis Vuitton cobrindo todo o seu corpo nu, clicada pelo fotógrafo David LaChapelle, apareceu na capa da revista Interview. A imagem, que ficou gravada para além do universo da moda, se tornou um ícone da logomania, como ficou conhecida a febre pelos logotipos de marcas famosas nos anos 90.
Naquela década, evidenciar logotipos de moda foi uma estratégia para reafirmar o status de grifes como Dior, em uma resposta à onda de fusões e aquisições na indústria de roupas de luxo. John Galliani, então designer da marca, usou a referência da cultura rap para criar seus jeans “ghetto fabulous”, estampados com monogramas da marca.
Mania de logo
Embora a logomania tenha alcançado o seu auge entre os anos de 1990 e 2000, com ajuda do estilo gangsta rap e, consequentemente, da moda de rua, os logotipos famosos começaram a surgir no início do século XX.
O símbolo da Lacoste, por exemplo, foi um dos primeiros a se tornar visível do lado de fora de uma peça de roupa. A logomarca do crocodilo fez tanto sucesso que, em 1933, René Lacoste, o tenista francês que criou as famosas camisas polo, fundou uma fábrica de roupas em parceria com o fabricante de malhas André Gillier.
Em uma prova irrefutável da força dos logotipos de marcas, a camisa com o “croco” bordado se tornou popular tanto entre astros de cinema e celebridades quanto no universo do esporte, e passou a ser um elemento essencial no guarda-roupa que segue o estilo preppy chic. Tanto que foi mencionado no livro Official Preppy Handbook (Manual Oficial do Estudante, em tradução livre), bestseller lançado pela americana Lisa Birnbach em 1980.
Um dos mais antigos ícones do mundo das marcas remete aos anos 20, quando a Jantzen, uma das principais empresas americanas de roupas esportivas, passou a bordar o logo de uma moça mergulhando em suas peças para banho. A marca chegou a ganhar seis prêmios Woolmark por seus modelos de suéteres masculinos, mas encerrou sua linha de roupa fitness em 1997 e hoje fabrica apenas trajes de banho.
Ícones de luxo
Os logotipos foram mais uma vez alvo de atenção nos anos 80, quando a identidade de uma marca adquiriu um status merecedor de avaliação financeira. Ela passou a ser reconhecida como uma promessa de uniformidade e se tornou essencial ao sucesso de uma empresa, particularmente no mercado de luxo.
O estilista americano Ralph Lauren foi um expoente do marketing de estilo de vida e da criação de logomarca dentro desse espírito, compondo uma linha de produtos altamente desejáveis com artigos variados – todos eles com o cobiçado logotipo que fez da grife uma marca global, principalmente depois de ter sido eleita para o figurino de Robert Redford em O Grande Gatsby (1974).
Entre os logotipos de marcas famosas, o bordado de cavalo e cavaleiro jogando polo, que estampa as peças da Polo Ralph Lauren, criada em 1967 pelo designer americano, se tornou um ícone do estilo preppy elegante em voga nos Estados Unidos.
Na Europa, o alemão Karl Lagerfeld e a sua abordagem irreverente da moda fizeram com que a clássica bolsa Chanel 2.55 se tornasse ainda mais atraente - desenhada originalmente em 1929 e aperfeiçoada por Coco Chanel em 1955. Foi nos anos 80 que a peça se tornou um dos símbolos de status mais cobiçados, quando Lagerfeld exagerou seus aspectos característicos, alargando os Cs duplos e entrelaçados do logotipo e reposicionando-os na frente da bolsa.
Desejo imediato
O sucesso do relançamento da 2.55 por Lagerfeld inspirou muitas outras grandes marcas a revisitarem seus arquivos e explorarem o desejo por peças de status instantaneamente identificáveis. Na era da logomania, o emblema de uma marca se tornou mais importante e atraente para o consumidor. Assim, grifes como Fendi, Christian Dior e Louis Vuitton passaram a produzir peças com seus logotipos repetidos, criando um padrão.
Da francesa Lacoste à brasileira Osklen, o logo de marcas famosas continua tendo o seu lugar na moda. De 2010 para cá, a logomania vem ensaiando um retorno liderado por Carol Lim e Humberto Leon, estilistas da Opening Ceremony e da Kenzo. Neste novo streetwear, a regra é recontextualizar logotipos de marcas famosas, de preferência com um toque divertido. Designers especializados nessa linguagem têm conquistado audiência, a exemplo de Heron Preston e Peggy Noland, entre outros.
A Moschino, que sempre se manteve entre as marcas adeptas da logomania, imprimiu um tom ainda mais irreverente em suas coleções a partir da entrada de Jeremy Scott em 2013. Na mesma época, a Calvin Klein Collection bordou em seus moletons os logos dos perfumes Eternity, Obsession e Escape.
A grife, aliás, soube usar o logo exposto para revolucionar a indústria com o lançamento da icônica cueca Calvin Klein em 1982. Com seu elástico inconfundível, a peça ajudou a lançar a tendência da roupa íntima à mostra e continua em alta até hoje, provando que a logomania veio mesmo para ficar.